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A autora


  Todos lhes dão, com uma disfarçada ternura, o nome, tão apropriado, de vira-latas. Mas e os vira-luas? Ah! ninguém se lembra desses outros vagabundos noturnos, que vivem farejando a lua, fuçando a lua, insaciavelmente, para aplacar uma outra fome, uma outra miséria, que não é a do corpo... (Mário Quintana)

Existem dentro de mim dois tipos de melancolias. Melancolia, já se diz, é a forma apaixonada de ficar triste. Uma letargia gostosa, um não-querer já querendo... Uma das melancolias se achega devagarzinho, um pé, outro pezinho, vem numa noite vazia, numa noite cheia de luar, na presença de um jarrinho ou de nada além de sombras: a melancolia de escrever. Melancolia gostosa, essa, que me faz rascunhar textos e mais textos escritos com as estrelas. Fantástica alumiação de sentidos que serve de cola para palavras das que soam bonitas até das sem nexo algum. É nesse momento que, dentre o mar de palavrinhas e frases prontas que bailam Tchaikovsky no meu cérebro, puxo uma ou duas e crio um poema. Cinco, seis, e está feita uma crônica. Nascimento prematuro, decerto, mas que pode ser dissecado, recortado, copiado, reproduzido, tudo isso inúmeras vezes repetidas até que se dê o que se dá.

Minha outra melancolia, ah! Essa é gostosa. É um tantinho diferente da outra. Não há nebulosa de palavras na minha mente: ela fica quietinha, de olhos atentos, esperando. Ainda não a entendi por completo, nem sei exatamente o que a sacia, mas tenho minhas hipóteses. Ela me cala, me tranca os lábios e os dedos: mas que malvada! Quem sabe seja uma forma quietinha de apreciar tudo. Quem sabe.

É, quem sabe.

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